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24 de agosto de 2012

História Secreta da KGB


 
História Secreta da KGB
 


“História Secreta da KGB” é o livro que relata toda a verdade sobre a organização russa. O seu autor, que durante anos recolheu secretamente a informação do livro, vê-se, assim, obrigado a viver sob um nome falso, numa casa vigiada, fora do país.
By Ralph Kinney Bennett

Quando era ainda um jovem funcionário do KGB, Vassili Mitrokhin fez alguns comentários críticos sobre as actividades da agência de espionagem durante a era de Estaline. Apesar de o ditador estar morto e oficialmente repudiado, Mitrokhin foi punido por ter falado demais. Transferiram-no das operações de campo para um posto burocrático nos arquivos do KGB. Esta transferência iria levar a uma falha de segurança monumental, que ainda hoje tem consequências.

Ao longo dos anos, Mitrokhin, que lidava com os documentos mais secretos do KGB, foi ficando cada vez mais desiludido com o sistema que a organização de espionagem, sabotagem e terrorismo pretendia preservar.

Laboriosamente, começou a copiar à mão um grande número de documentos e a esconder as suas notas. O seu móbil era «assegurar que a verdade não seria esquecida e que a posteridade pudesse um dia vir a tomar conhecimento dela».

A verdade não seria esquecida, graças a um livro espantoso: O Arquivo Mitrokhin. A História Secreta da KGB. Escrito por um historiador da Universidade de Cambridge, Christopher Andrew, com a colaboração de Mitrokhin, este volume é a primeira grande exposição pública do material recolhido pelo antigo funcionário do KGB: uma história clandestina, em bruto, do grande combate entre o comunismo soviético e o mundo livre. O conteúdo do arquivo de Mitrokhin abrange factos que vão do espantoso e do sinistro à farsa: os nomes verdadeiros e de código dos agentes soviéticos infiltrados no Departamento de Estado e noutros sectores do Governo dos Estados Unidos e as identidades de cientistas importantes que entregaram os segredos da bomba atómica a Moscovo. As histórias que o KGB «plantou» nos meios de comunicação de todo o Mundo acusando os militares norte-americanos de terem inventado a sida e americanos ricos de «adoptarem» crianças do Terceiro Mundo para lhes roubarem órgãos.

Lá estão também registados exemplos do mesquinho e do grotesco. Furioso com a deserção do grande bailarino Rudolf Nureiev, o KGB conseguiu que provocadores atirassem vidros partidos para o palco durante a sua primeira grande apresentação no Ocidente. Concebeu até um plano para lhe partir as pernas, descrito no burocratês do KGB como uma acção «destinada a diminuir as suas capacidades profissionais». Em 1972, o I Directório (informação e contra-informação no estrangeiro) encetou uma mudança, que iria durar toda uma década, do centro de Moscovo para os subúrbios, e Mitrokhin foi incumbido da tarefa de indexar e selar os seus 300 000 ficheiros. Sozinho, passava os documentos em revista e depois colocava-os em contentores selados, que escoltava pessoalmente até às novas instalações. Tinha acesso a tudo, incluindo os ficheiros muito secretos do Directório S, que se ocupava de todos os agentes soviéticos ilegais: cidadãos de outros países, recrutados como funcionários ou agentes, que operavam no estrangeiro na mais rigorosa clandestinidade.

Mitrokhin começou a copiar material destes ficheiros em pedaços de papel, que levava para casa escondidos nos sapatos. Gradualmente, começou a perceber que os funcionários do KGB do seu nível não eram revistados pelos guardas da segurança, que se limitavam a, de vez em quando, inspeccionar-lhes os sacos e as pastas. Assim, começou a levar os seus apontamentos em folhas de papel que metia nos bolsos. Todos os fins-de-semana, levava maços de notas para a sua datcha nos arredores de Moscovo, onde as batia à máquina e as metia numa batedeira de leite escondida sob o soalho. Com os anos, as notas transformaram-se num enorme arquivo, escondido numa série de caixotes e baús.

Ao ler os ficheiros, Mitrokhin apercebeu-se do papel vital do KGB para manter o poderio militar da União Soviética, um Estado policial fortemente dependente da ciência e tecnologia ocidental, sobretudo norte-americana. Foi em grande parte graças à espionagem, escreveram Andrew e Mitrokhin, que a União Soviética se manteve como uma superpotência no plano militar, enquanto a sua «mortalidade infantil e outros índices de penúria social» eram muito piores que os dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.

Se a União Soviética era, como lhe chamou Ronald Reagan, o Império do Mal, o KGB era, como veio a chamar-lhe Mitrokhin, a Máquina do Mal, que permitia ao império funcionar. Entretanto, o KGB reagia com «ferocidade» a qualquer tentativa de tornar públicas as suas operações. Um primeiro exemplo foi a publicação, em 1974, do livro KGB: The Secret Work of Soviet Secret Agents, de John Barron, então um editor da Reader’s Digest.

O livro «deu origem a pelo menos 370 avaliações de danos sofridos e outros relatórios» do KGB. O agente do KGB residente em Washington recebeu instruções para descobrir tudo o que pudesse sobre o passado de Barron e pôr em prática «medidas activas» para desacreditá-lo. Estas medidas incluíam esforços grosseiros para retratá-lo como parte de uma «conspiração sionista» contra a União Soviética. Foram mesmo decretadas medidas para desacreditar jornalistas que tivessem feito críticas do livro ou usado informação recolhida nele.

Em Março de 1992, após o colapso da União Soviética, Mitrokhin pegou nalguns exemplos das notas do seu arquivo e apanhou um comboio nocturno da Rússia para uma das repúblicas do Báltico (não quer revelar qual). Contactou a Embaixada dos Estados Unidos, mas a recepção que lhe deram não foi entusiástica. Os funcionários norte-americanos, aparentemente, estavam a braços com uma enxurrada de dissidentes. Foi mais bem tratado na Embaixada Britânica. Algum tempo depois, os serviços secretos britânicos trouxeram-no, mais a família e os arquivos, para fora da Rússia. Hoje é cidadão britânico.

Os ficheiros já serviram para a condenação de Robert Lipka, um espião soviético infiltrado na Agência Nacional de Segurança norte-americana, a NSA. Também denunciaram Melita Norwood, uma cidadã britânica que entregou segredos científicos importantes aos Soviéticos durante e após a II Guerra Mundial. Não foi presa e declara não se arrepender do que fez. À medida que o seu conteúdo for totalmente desvelado, o arquivo poderá revelar milhares de nomes de agentes.

Entretanto, um elemento revelado em O Arquivo Mitrokhin precisa de ser urgentemente resolvido. O KGB teria enterrado rádios, armas e explosivos em esconderijos espalhados por toda a Europa e Estados Unidos, parte de um plano soviético para sabotar condutas, centrais eléctricas, cabos de alta tensão, barragens, reservatórios e outras instalações na eventualidade de uma guerra. Já foram descobertos esconderijos com equipamento de rádio na Suíça e na Bélgica. Diz-se que outros estão localizados no norte do estado de Nova Iorque, no Minnesota, Montana, Califórnia e Texas.

Poderia alguns destes esconderijos incluir dispositivos nucleares? Um ex-militar de alta patente da União Soviética indicou que os Soviéticos produziram 132 bombas nucleares do tamanho de malas. O republicano Curt Weldon, membro da Comissão das Forças Armadas da Assembleia de Representantes dos EUA, diz que o ministro da Defesa russo, Igor Sergueiev, confirmou a existência destas bombas de 1 quilotonelada. Mas os Russos só teriam reconhecido a existência de 48 destas armas.

«Há pelo menos a hipótese de que uma ou mais destas armas nucleares esteja escondida algures em território norte-americano», diz Weldon. «A Rússia deve esclarecer esta matéria indicando a localização exacta dos esconderijos.» Até hoje, a Rússia não o fez, e a sua resposta a O Arquivo Mitrokhin não é tranquilizadora. O Governo Russo desvalorizou Mitrokhin, dizendo que não passava de um arquivista e que os seus materiais são de autenticidade duvidosa.

Pior ainda, o SVR — sucessor russo do KGB — prossegue um vigoroso esforço de espionagem contra os Estados Unidos. Em Dezembro passado, um «diplomata» russo em Washington foi expulso dos EUA na sequência de uma acusação de espionagem. Um aparelho de escuta tinha sido «plantado» numa sala de conferências do Departamento de Estado e, segundo o FBI, ele fora detido enquanto escutava uma reunião, sentado no carro, estacionado perto do edifício.Entretanto, Mitrokhin tem que viver sob um nome falso numa casa rigorosamente vigiada, em Inglaterra. Diz temer que algum assassino vingativo do SVR atente contra a sua vida. «As pessoas, as organizações e os objectivos são os mesmos», disse ele ao Times londrino. «Todos os chefes fazem parte da mesma velha rede. E são todos criminosos.» 
  



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